autoritarismo latuff

É segredo de polichinelo o completo desprezo do presidente Bolsonaro e sua estridente equipe pelas liberdades, a democracia e os Direitos Humanos. O capitão reformado já homenageou torturadores, idolatrou Augusto Pinochet, defendeu a censura e o regime militar e lamentou que os ditadores de plantão entre 1964 e 1985 não tenham fuzilado mais opositores, “pelo menos uns 30 mil”.

Por esses dias, seu filho, o polêmico falastrão Carlos Bolsonaro (conhecido nas rodas mais íntimas como “o Caluxo”) acrescentou ao farto reportório de besteirol do pai uma nova pérola. “Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos”.

Levantaram-se, felizmente, muitas vozes de repúdio ao destrambelhado menino, que fez questão de aparecer armado numa foto ao lado do pai no hospital. Entre elas a do presidente do Senado e a do vice-presidente Mourão. Mas não devemos baixar a guarda. Os acenos ao autoritarismo, como a malfadada censura do bispo Crivella, multiplicam-se e tornam ainda mais sombria a conjuntura nacional.

Satã, Adorno e os Beatles

É uma forma pouco sutil de pregar a implantação de uma ditadura. Se não é possível pelo voto, vamos na carona do golpe, sugere o filho pródigo, que – a exemplo dos demais fedelhos do capitão – foi instruído pelo guru Olavo de Carvalho. O astrólogo decrépito que mora nos EUA andou dizendo dias atrás, em vídeo divulgado nas redes sociais, que os Beatles eram semi-analfabetos em música e “mal sabiam tocar violão”, de forma que as belas composições que interpretaram, embora satânicas a julgar pela opinião do sábio da Corte, foram compostas por ninguém menos que o filósofo alemão Theodor Adorno. Haja imaginação.

Parece inacreditável que o Brasil esteja sendo submetido a tamanhas sandices. Mas estamos diante da incontornável realidade e infelizmente é preciso levar a sério o bando de tresloucados que hoje ocupa o Palácio do Planalto. Se reunirem forças para dar um novo golpe não tenham dúvidas de que o farão.

Alvo maior é o povo

Também está mais do que claro que o alvo maior da mentalidade golpista são os direitos do povo, o patrimônio público (que está sendo leiloado na bacia das almas), as organizações sindicais, os movimentos sociais e a soberania nacional. Ataca-se a democracia para melhor golpear a classe trabalhadora e favorecer os interesses do capital, favorecendo em primeiro lugar as transnacionais dos EUA.

A defesa da frágil e maltratada democracia brasileira está na ordem do dia e requer a construção de uma Frente Ampla para ser enfrentada. Uma obra que requer maior tolerância com as divergências ideológicas e políticas, a superação de ressentimentos para lograr a união dos diferentes segmentos e forças da nossa sociedade que prezam as liberdades democráticas, o respeito à Constituição e o Estado de Direito.

O Fórum “Direitos Já, Democracia Sempre”, realizado recentemente em São Paulo com a participação de lideranças de 16 partidos e representantes dos movimentos estudantis, sindical e social (cabendo registrar a criticada ausência do PT), teve o mérito de sinalizar um caminho nesta direção. Só o povo unido pode resgatar o país do abismo a que foi precipitado pelo golpe de 2016, coroado em 2018 pela eleição de Jair Bolsonaro.

Fonte: Portal CTB (Umberto Martins)