O escândalo que levou à intervenção da Justiça no Sindicato dos Comerciários do Rio, foco de uma reportagem da Rede Globo exibida no “Fantástico” do último domingo, merece uma reflexão mais atenta e profunda do movimento sindical. A transformação da entidade num negócio da família Mata Roma, que somente na última gestão promoveu um desvio estimado em mais de R$ 100 milhões, é inadmissível e deve ser repudiada com energia e indignação.

Note-se que a base daquele sindicato compreende um universo de mais de 400 mil trabalhadores e trabalhadoras, ao passo que os sócios não chegavam a 800. Por absoluta carência de ação sindical o piso da categoria é inferior a R$ 1 mil. O desvio moral liderado por Otton da Costa Mata Roma, que com o capital acumulado na ladroagem comprou aviões e virou proprietário de duas empresas de transportes aéreo, desdobrou-se, como era de se esperar, em desvio político, autoritarismo e traição aberta aos interesses dos comerciários e da classe trabalhadora em geral.

Os sócios já não desfrutavam sequer do direito ao voto. Em 2014 a diretoria foi eleita em assembleias fantasmas, forjadas por dirigentes da UGT, que depois coletavam ou falsificavam assinaturas para fechar as atas eleitorais e ainda se hospedavam em um flat mobiliado e ganhavam uns trocados pelo malfeito. As leis da conveniência talvez expliquem o fato de Mata Roma ter sido eleito secretário de Relações Internacional da UGT e permanecer na função, agora como licenciado, mesmo depois da intervenção no sindicato.

A reportagem da TV Globo mostra só um lado da história e pode induzir a opinião pública à conclusão de que o conjunto do movimento sindical brasileiro está contaminado pelo vírus da corrupção. Isto simplesmente não é verdade e a classe trabalhadora não deve se enganar com as falsas generalizações a este respeito, que servem aos propósitos alienantes da propaganda burguesa. É necessário saber separar o joio do trigo. A história do movimento sindical (do 1º de Maio, assim como do 8 de março) revela a coragem e o heroísmo de muitas lideranças na luta em defesa dos direitos trabalhistas.

O papel dos sindicatos, para o qual originalmente foram criados, é a defesa intransigente dos interesses da classe trabalhadora e para que seja cumprido é preciso honestidade, compromisso com as lutas e respeito à democracia. Todavia, há sindicalistas corrompidos, degenerados que traíram a confiança e os interesses das bases, assim como centrais sindicais que fazem o jogo da direita e dos patrões.

Mas existem também sindicalistas honestos, comprometidos com a classe trabalhadora e empenhados de corpo e alma na luta contra a exploração capitalista e em defesa dos assalariados. E é este o caso dos companheiros e companheiras que concorrem pela Chapa 1 à nova diretoria do Sindicato dos Comerciários do Rio. É esta igualmente a teoria, e também a prática, da CTB, que se orienta por uma concepção classista de sindicalismo (democrática, autônoma e anticapitalista) e não dá guarida a corruptos.

Não podemos ser negligentes com a corrupção, mesmo porque ela é uma das principais causas da crise de representatividade que abala as instituições no Brasil e subtrai capacidade de mobilização e conscientização dos sindicatos. Não se trata de um fenômeno isolado. A falta de democracia nas gestões e principalmente nas eleições sindicais é companheira dileta da corrupção. É recorrente ouvir em nosso meio a cínica sentença de que em eleição sindical até o voto vale. Não é de se estranhar a falta de credibilidade.

Os dirigentes das centrais não podem ignorar a realidade escandalosa em seu entorno (revelada parcialmente e com sensacionalismo no “Fantástico”) e fingir que tudo vai muito bem, obrigado. A CTB defende a elaboração de um código eleitoral, atrelado ao recebimento das contribuições sindicais, com regras democráticas que garantam o direito à associação, transparência e lisura nos pleitos, coibindo as fraudes, restringindo os mandatos a quatro anos com direito a uma única reeleição. Quem não assinar não deve ter acesso à Contribuição Sindical e procurar sobreviver, se conseguir, das mensalidades.

Defendemos a mais ampla transparência na gestão dos recursos das entidades, que pertencem em primeira e última instância à classe trabalhadora, consideramos um crime imperdoável desviá-los em benefício próprio, empregando-os no enriquecimento ilícito de falsos dirigentes e seus familiares. Os sindicatos foram criados, com o sangue e o suor operário, como instrumentos de luta da classe trabalhadora contra a exploração e opressão capitalista. É intolerável que se transformem em balcões de negócios de alguns velhacos oportunistas e mafiosos.

Adilson Araújo, presidente nacional da CTB
Fonte: feebbase.com.br