Câmara Federal avaliza retrocesso na Previdência
A Câmara dos Deputados aprovoou na noite desta quarta-feira (10), em primeiro turno, por 379 votos a 131, o texto-base da PEC da Previdência
Na votação do relatório final da proposta de reforma da Previdência encaminhada por Jair Bolsonaro ao Congresso Nacional, prevaleceu o vale tudo para aprovar a PEC do retrocesso. O governo desembolsou R$ 1,13 bilhão para os parlamentares e prometeu liberar mais 2 bilhões de reais e alguns trocados, recorrendo ao famoso toma lá dá cá da “velha política” que prometeu abolir. Isto tem nome: é compra de votos, ainda que legalizada. A tão falada austeridade fiscal só vale para os pobres, com cortes na saúde, habitação, educação e serviços públicos em geral.
É curioso observar que a mídia burguesa, liderada pela Rede Globo, que nos governos Lula e Dilma promovia um carnaval de moralismo monitorando zelosamente a liberação de verbas para pagamento de emendas parlamentares e denunciando a compra de votos, agora diz que isto é tudo muito natural, que faz parte da tradição política no Brasil e inúmeros outros países. Já o presidente da Câmara dos Deputados, o carioca Rodrigo Maia, líder do DEM e do chamado Centrão, decidiu passar o rolo compressor para liquidar a fatura na Câmara antes do recesso legislativo.
Contra o trabalhador
“Não podemos votar a favor de um projeto que prejudica o mais pobre, que é contra o trabalhador. Precisamos debater e refletir. Acho que o Rodrigo Maia está atropelando as coisas”, desabafou o deputado Daniel Almeida (PCdoB/BA). "Não será tirando dinheiro dos mais pobres, dos professores, que vamos resolver a crise do Brasil".
“É uma reforma para favorecer o sistema financeiro, sacrificando os pobres”, ressaltou o deputado Ruy Falcão (PT/SP). “Nós estaremos aqui e nas ruas para defender os interesses do povo brasileiro, faremos o que estiver ao nosso alcance para derrotar esta crueldade”, complementou.
Os empresários, entusiastas do retrocesso, tiveram fácil acesso ao plenário para acompanhar o debate, ao passo que líderes sindicais e dos movimentos sociais foram recepcionados com bombas de gás lacrimogêneo e alguns poucos conseguiram entrar no recinto por força de uma liminar do presidente do STF, Dias Toffoli. “Uma vergonha”, disparou a deputada Alice Portugal (PCdoB/BA) dirigindo-se ao presidente da Casa. "Não podemos aceitar a repressão".
Na sequência, provavelmente ainda nesta quinta-feira, serão votados os destaques. A oposição tenta obstruir e adiar o processo de votação, mas a correlação de forças no Parlamento parece favorecer a estratégica governista. Centrais e movimentos sociais não abriram mão da luta e continuam mobilizados.
Umberto Martins
Nova jornada de luta programada para 12 de julho
Para barrar a reforma da Previdência, as ruas tem sido o campo de batalha. Após a participação em massa dos brasileiros na greve geral do dia 14 de junho, as centrais sindicais preparam o Dia Nacional de Mobilização. As manifestações estão programadas para acontecer em 12 de julho, em diversas cidades do Brasil.
A intenção é pressionar deputados e senadores, além de conscientizar a sociedade sobre os retrocessos da reforma. A informação é de que o Congresso Nacional trava uma batalha sobre a proposta que acaba com a aposentadoria do trabalhador. Sendo papel fundamental da oposição criar uma articulação política, parar impedir o desmonte da Seguridade Social.
Estão previstas para acontecer manifestações nos aeroportos, atos de rua em diversas cidades, inclusive Salvador, e reuniões com parlamentares no Dia de Mobilização. As ações contribuem para o enfrentamento da atual conjuntura. O ato pode ser decisivo para barrar a reforma da Previdência.
Fonte: Centrais Sindicais
Reforma da Previdência: impactos fiscais e quem paga a conta
A PEC 6/19, enviada ao Congresso por Bolsonaro e Guedes, previa originalmente impacto de R$ 1 trilhão em 10 anos e R$ 4,4 trilhões em 20 anos, a partir da redução de direitos dos segurados urbanos e rurais do Regime Geral de Previdência Social, RGPS, mudanças em regras do abono salarial e benefícios assistências, e redução de direitos do servidores públicos, além de aumento de arrecadação com as contribuições dos servidores.
No dia 25 de abril, o Governo, criticado por não apresentar dados desagregados dos impactos, apresentou nova tabela, confirmando o que já se sabia: uma parcela expressiva do ganho fiscal viria dos mais pobres.
Assim, 82% do ganho fiscal total viria de segurados do RGPS, idosos e pessoas com deficiência, e trabalhadores com renda de até 2 salários mínimos, que perderiam direito ao abono salarial. A conta, contudo, não inclui os trabalhadores que perderiam direito ao salário família, e não incluía o ganho fiscal do fim da isenção de contribuição social sobre a folha de empresas exportadoras.
O substitutivo promoveu algumas alterações que impactam o ganho fiscal, reduzindo-o, mas de maneira tímida. Alterações nas regras de transição, no direito às pensões, nas regras do BPC, no abono salarial, a preservação da aposentadoria rural, reduzirão os prejuízos, mas, ainda, assim, eles ocorrerão de forma expressiva.
A grande preocupação do relator foi preservar a “potência fiscal” da reforma e atingir ganhos fiscais de cerca de R$ 1,1 trilhão em dez anos, mas que serão de cerca de R$ 4 trilhões em vinte anos, e à custa, centralmente, da perda de direitos das camadas mais pobres da população.
A rigor, as mudanças promovidas pelo substitutivo reduzem, apenas, em R$ 100 bilhões o impacto fiscal em dez anos, decorrente da manutenção de direitos ao Benefício de Prestação Continuada e Aposentadorias Rurais. Os demais itens da proposta serão afetados em menor monta pelas mudanças aprovadas, permanecendo o principal impacto nos benefícios de aposentadoria e pensão de segurados do RGPS.
Assim, os segurados do RGPS continuarão pagando 66% da conta total, e 11% do ganho fiscal continuará vindo do abono salarial, visto que quem ganha mais de R$ 1.364 até R$ 2.000 perderá o direito. O BPC ainda será afetado, e cerca de 1/3 dos beneficiários poderá perder o direito a ele, com base no critério de renda que será constitucionalizado, que impedirá que ambos os membros de um casal de idosos tenham direito a ele.
No total, os segurados do INSS, idosos pobres e trabalhadores com renda de até 2 salários mínimos continuarão pagando 79% da conta da “Nova Previdência”.
E mesmo o pequeno aumento da receita oriundo da nova tributação dos bancos, que passarão a pagar 20% de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, não trará nenhum efeito concreto sobre as contas públicas: continuarão a poder compensar esse aumento de tributo com a redução de outros tributos ou prejuízos, porque o substitutivo afastou a vedação da utilização de prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa para quitação de contribuições ou a compensação das referidas contribuições com tributos de natureza diversa.
A comissão especial, tão rigorosa na hora de apreciar destaques para preservar direitos, não pestanejou na hora de rejeitar, por meio de destaque do PTB, PP e MDB, o fim da isenção de contribuição dos exportadores, de forma a beneficiar, especialmente, o agronegócio exportador, mantendo a renúncia fiscal.
Assim, não há dúvida: a Nova Previdência continua com o seu caráter antissocial e fiscalista, penalizando os mais pobres, que terão maior dificuldade em se aposentar e receber uma aposentadoria digna, ou uma pensão justa, que será rebaixada para valores até mesmo menores que o salário mínimo, penalizando as mulheres, os professores e as categorias sujeitas a condições insalubres, cujos benefícios serão menores.
Mesmo os servidores, que fazem jus a benefícios acima do teto do RGPS, serão duramente penalizados, com a perda de direitos em fase de aquisição, regras mais duras até do que o RGPS para ter acesso aos mesmos direitos, e, ainda, uma forte taxação de seus vencimentos e proventos, com efeitos confiscatórios.
Essa é a “Nova Previdência” que a Câmara dos Deputados está votando desde de 9 de julho de 2019.
Fonte: Congresso Em Foco
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