Intercalado por muitas palavras de ordem contra o imperialismo e as barbáries cometidas em nome do capitalismo, o segundo e último dia do Simpósio Internacional da Federação Sindical Mundial, em São Paulo, ofereceu aos mais de 300 participantes do Brasil e de outros 41 países um panorama da história sindical mundial a partir de fatos narrados sob o ponto de vista da própria classe trabalhadora desde o pós-Guerra, em 1945, quando a FSM foi fundada.
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Fatos que não se aprendem nos livros escolares e que revelam a trajetória do mundo do trabalho sob uma perspectiva que a “mão pesada” da hegemonia ocidental, como descreveu o presidente da FSM, George Mavrikos, procura não mostrar.
Sob o tema “Os desafios da classe trabalhadora na atualidade e os 70 anos da Federação Sindical Mundial”, a tarde de palestras começou com a fala do peruano Valentim Pacho, membro do secretariado internacional da FSM, que narrou os principais momentos da história da federação ao longo das sete décadas.
Representante histórica dos trabalhadores ligados à esquerda, a FSM nasce com o fim do nazi-fascismo na Alemanha, norteada pelos mesmos princípios de solidariedade de classe que a definem nos dias de hoje.
“Nas décadas de 1960, a FSM apoiou as revoluções cubana e a sandinista, sob uma forte ofensiva anti-comunista promovida pelos EUA e pela Europa ocidental. Tornou-se um ponto de apoio das organizações trabalhistas e contribuiu para o crescimento da combatividade dos sindicatos”, conta Pacho.
Ele lembra que a FSM sofreu um duro golpe com a crise do comunismo e a queda do Muro de Berlim, em 1989, e que só voltou a se organizar na década de 1990, ano em que se realizou um congresso em Moscou. “Foi um dos encontros mais dramáticos de sua história – tínhamos de enfrentar os impasses e resistir”.
A este congresso, seguiram-se outros em Varsóvia, na Polônia, e Damasco, na Síria, mas o ponto alto desta retomada da federação se daria em 2011, com o célebre Pacto de Atenas, que reuniu na capital grega trabalhadores dos 5 continentes e consagrou um número de afiliados que superou a marca dos 90 milhões.
“A FSM recuperou sua força, fortaleceu a unidade sindical e serviu como um termômetro histórico para o incremento da consciência de classe”, diz Pacho.
Em 2015, o congresso de Havana, em Cuba, corroboraria o que já se verificara na Grécia, com uma ampla participação mundial. “O congresso ajudou a reforçar o empenho em defender e ampliar o ideal classista e internacionalista”, afirma o cubano Ramón Cardona, da FSM das Américas.
Rosalba Aguilar, do México, em sua intervenção, denunciou o massacre dos estudantes mexicanos ocorrido no país e até hoje não esclarecido e as reformas trabalhistas que provocaram uma brutal redução de direitos à classe trabalhadora. A secretária da mulher trabalhadora da CTB, Ivânia Pereira, cobrou do movimento sindical e da FSM uma contribuição mais vigorosa pela igualdade de gênero em todo o mundo.
Cerca de 40 re
presentantes de delegações nacionais e internacionais realizaram suas intervenções, entre eles dirigentes do México, Turquia, Egito, Índia, Rússia, Portugal, Chile, Líbano, Grécia e Cuba. Todos agradeceram e elogiaram a impecável organização do evento que soube acolher, administrar e promover uma excelente experiência para centenas de convidados.
O secretário geral da FSM, George Mavrikos, em sua fala final, reafirmou que um dos frutos mais importantes deste encontro no Brasil é certamente a reafirmação da história do movimento sindical e de suas lutas mundo afora. "A história nos ensina a não cometer os mesmos erros e a seguir em frente. Mas estamos fazendo história todos os dias. É hoje e o que plantamos para o futuro. Estaremos unidos em nossa luta pelo espírito democrático e pela consciência de classe, contra a exploração capitalista", afirmou.
Ao final dos discursos, lideranças da CTB entregaram aos representantes de todos os países presentes no simpósio uma estatueta com o símbolo do evento, os braços erguidos em gesto de luta, desenho criado por um artista cubano, vencedor de concurso que envolveu artistas de diversos países.
O secretário de relações internacionais, Divanilton Pereira, um dos principais idealizadores e organizadores do encontro internacional, agradeceu o empenho de toda a equipe CTB e lembrou a força e o simbolismo deste evento que, 70 anos após a fundação da FSM, reúne-se para enfrentar as mesmas forças reacionárias e fascistas que assombravam a civilização em meados do século passado.
"Neste encontro pudemos identificar a conjuntura, debater caminhos e reafirmar a estratégia socialista", afirmou.
O presidente da CTB, Adilson Araújo, mais uma vez ressaltou a importância da realização deste simpósio no Brasil e destacou que este encontro, realizado neste momento de crise mundial, deverá ser um marco para o movimento sindical.
"Celebramos aqui, juntos, uma nova etapa na vida do sindicalismo brasileiro. Nossos dirigentes têm buscado fortalecer os laços de unidade e solidariedade com a classe trabalhadora de todo o mundo para seguirmos, unidos, com determinação e de forma consequente para que não haja retrocesso", disse Araújo.
Texto: Natália Rangel - Portal CTB